Artigo – A Paixão do Nosso Senhor Jesus Cristo

Barros Alves

“Em algumas prédicas que ouvi nesta semana, se disse, com o fim de se demonstrar a maleabilidade do caráter das pessoas, que a mesma multidão que ovacionara Jesus na entrada triunfal em Jerusalém, fora a mesma que cinco dias depois pedira sua crucificação em praça pública, preferindo salvar um marginal”, aponta em artigo o jornalista e poeta Barros Alves

A rigor, o começo da tragédia que culminaria na morte de Jesus, conforme estava escrito em inúmeras predições, ocorreu com a chegada dele a Jerusalém, no domingo, primeiro dia da caminhada rumo ao martírio.

Diga-se, por necessário, que Jerusalém era uma cidade de grande importância, sobressaindo-se na região por ser há mais de mil anos o centro sagrado do povo judeu. Naquela “cidade de Davi”, o rei poeta, pastor e guerreiro glorificado ao longa da história, há muito esperava-se o Messias libertador do jugo romano, que deveria ser o “filho de Davi”.

Jesus quis entrar em Jerusalém como um rei a seu modo. Porque mesmo sendo um rei, o seu reino não é deste mundo (Jo. 28.36). Os reis adentram em cidades triunfalmente, após as conquistas, em belos cavalos ajaezados.

Não sendo um rei temporal, ao chegar aos arredores de Jerusalém, Jesus ordenou aos seus discípulos que fossem à cidade porque encontrariam uma jumenta e um jumentinho sobre o qual ninguém havia montado. (Mt. 21.7; Mc. 11.7; Lc. 19.35; Jo. 12. 14,15). Levaram-lhe o animal alheio e sobre ele puseram suas vestes e montaram Jesus sobre ele. Assim, Jesus entrou na Cidade Santa seguido por uma multidão que o aplaudia e com ramos de palmeiras nas saudavam o “Rei dos judeus” gritando: “Hosana ao Filho de Davi; bendito o que vem em nome do Senhor. Hosana nas alturas!” (Mt. 21:9; Mc. 11. 9,10; Jo. 12.13).

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Sobre essa saudação especial, vale citar o que escreveu o teólogo Joseph Ratzinger, sagrado Papa Bento XVI: “Bendito o que vem em nome do Senhor!’ – inicialmente pertencia à liturgia de Israel destinada aos peregrinos, sendo estes saudados com ela á entrada da cidade ou do templo(…) Entretanto, a expressão ‘que cem em nome do Senhor’ assumira um significado messiânico. Mais ainda, tinha-se tornado até a designação d’Aquele que fora prometido por Deus. E assim, de uma benção para os peregrinos, a expressão transformou-se num louvor de Jesus, que é saudado como Aquele que cem em nome do Senhor, como o Esperado e o anunciado por todas as promessas.”Cf. JESUS DE NAZARÉ – DA ENTRADA EM JERUSALÉM ATÉ A RESSURREIÇÃO. Editora Planeta, São Paulo, 2011, pág. 20)

Diante daquela multidão gritando “Hosana ao Filho de Davi” para uma figura desconhecida montada num jumentinho, conforme a narrativa de Mateus, “a cidade inteira agitou-se e dizia: ‘Quem é este?” Sem dúvida, a cidade ficou perturbada com aquela situação inesperada. Mas, segundo a indagação feita pelas pessoas, o profeta de Nazaré só era conhecido de ouvir dizer. Não tinha relevância política ou de poder em Jerusalém.

Em algumas prédicas que ouvi nesta semana, se disse, com o fim de se demonstrar a maleabilidade do caráter das pessoas, que a mesma multidão que ovacionara Jesus na entrada triunfal em Jerusalém, fora a mesma que cinco dias depois pedira sua crucificação em praça pública, preferindo salvar um marginal. Joseph Ratzinger (Bento XVI) pensa diferentemente: “A multidão que, na periferia da cidade, prestava homenagem a Jesus não é a mesma que depois haveria de pedir a sua crucifixão.” (Idem, ibidem, pág. 21).

Enfim, o domingo cheio de simbolismos em que Jesus foi saudado ao entrar em Jerusalém foi o início não da entronização de um rei sucessor de Davi para redimir o povo judeu do domínio de Roma, mas, paradoxalmente, o começo das dores que levaria o Messias ao martírio para a libertação de toda a humanidade.

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