Artigo – Bíblia, Pobreza e Teologia da Libertação

Barros Alves
“A diferença flagrante entre o ensinamento de Jesus e os teólogos da libertação é que o Reino de Jesus não é deste mundo, enquanto aqueles esqueceram o Céu e a piedade cristã para se aliarem aos ateus marxistas que pregam a violência e a ascensão ao poder pela revolução armada”,

Por primeiro, diga-se arrimado no magistério da Igreja, nos ensinamentos dos Papas e, em especial, na declaração do Papa Bento XVI, que teologia da libertação nem teologia é, porque faz uma leitura da Bíblia e da Igreja com um olhar sociológico, como se a “Eclesia” fosse uma ONG, um sindicato ou uma instituição social qualquer. Daí é que, desvestida do sentido primeiro da Igreja, o espiritual, a TdL, por vários motivos foi considerada uma variante herética da teologia católica e se seus partidários ainda permanecem no seio da Igreja deve-se ao olhar misericordioso e inclusivo do cristão. Pessoalmente, não vejo isso com bons olhos. Os teólogos da libertação são laranjas podres a contaminar as demais que estão no “cesto” de Cristo. Porém, creiamos que as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja.

Onde ficam os pobres nesta história? De logo, lembre-se que há vários tipos de pobres: materialmente, intelectualmente, espiritualmente etc. A Bíblia se referiu a todos esses pobres, e tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, temos a presença deles, sobretudo os que estão em pobreza material e por quem o escritor bíblico tem clara simpatia e expressa a exigência dos cuidados que os ricos devem dispensar aos pobres. Cristo chamou de bem-aventurados os pobres e não os ricos. Disse também, em momento icônico de sua vida, que sempre teremos os pobres conosco. (João, 12.8). Porém, a diferença flagrante entre o ensinamento de Jesus e os teólogos da libertação é que o Reino de Jesus não é deste mundo, enquanto aqueles esqueceram o Céu e a piedade cristã para se aliarem aos ateus marxistas que pregam a violência e a ascensão ao poder pela revolução armada. Enquanto o Reino do Cristo que valoriza o pobre existe fundado no amor ao próximo, na paz e na esperança do Paraíso celestial, a TdL defende o assalto ao poder para estabelecer o paraíso aqui na terra. Ou seja, de feição eminentemente política e revolucionária, a TdL que estabelecer o Reino de Deus aqui na Terra, ainda que de forma violenta. Pensam igualmente os zelotas, assemelham-se a Judas Iscariotes.

Por oportuno, vale lembrar que Judas, o traidor, foi quem provocou a reação de Jesus no episódio ocorrido na residência de Lázaro. Urge transcrevê-lo: “Foi, pois, Jesus seis dias antes da páscoa a Betânia, onde estava Lázaro, o que falecera, e a quem ressuscitara dentre os mortos. Fizeram-lhe, pois, ali uma ceia, e Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele. Então Maria, tomando um arrátel de unguento de nardo puro, de muito preço, ungiu os pés de Jesus, e enxugou-lhe os pés com os seus cabelos; e encheu-se a casa do cheiro do unguento. Então, um dos seus discípulos, Judas Iscariotes, filho de Simão, o que havia de traí-lo, disse: Por que não se vendeu este unguento por trezentos dinheiros e não se deu aos pobres? Ora, ele disse isto, não pelo cuidado que tivesse dos pobres, mas porque era ladrão e tinha a bolsa, e tirava o que ali se lançava. Disse, pois, Jesus: Deixai-a; para o dia da minha sepultura guardou isto; Porque os pobres sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre me tendes. E muita gente dos judeus soube que ele estava ali; e foram, não só por causa de Jesus, mas também para ver a Lázaro, a quem ressuscitara dentre os mortos. E os principais dos sacerdotes tomaram deliberação para matar também a Lázaro; Porque muitos dos judeus, por causa dele, iam e criam em Jesus.” (João, 12.1-11)

O texto transcrito é claríssimo. Judas, o mau caráter, o traidor, não estava preocupado com os pobres, apesar de tentar aparecer como piedoso paladino dos descamisados. Não demorou para os fatos demonstrarem a hipocrisia, a má fé, a cretinice daquele que estava no grupo de Jesus. Não existe ensinamento mais claro do que este, um exemplo que deve colocar em estado de alerta todos os cristãos, em especial os católicos. O traidor está ao nosso lado, comendo o pão e bebendo o vinho da Eucaristia (Santa Ceia na terminologia evangélica). Nossa misericórdia pode ser confundida com leniência com o mal, especialmente quando aceitamos que lideranças da Igreja, claramente alinhadas com neopagãos, materialistas marxistas, continuem a pregar seus desvios éticos, morais e teológicos dentro da Congregação dos Santos.

O neo-ortodoxo Karl Barth, um dos mais importantes teólogos evangélicos do século XX, escreveu: “A Bíblia está ao lado dos pobres, dos despojados e dos destituídos. Aquele a quem a Bíblia chama de Deus toma partido a favor dos pobres.” É fato. Os cristãos acreditam em Deus e se esforçam para fazer a vontade dEle. O que causa espécie é que muitos cristãos(?), em especial no campo do Catolicismo, se deixem enganar por um discurso pseudo-piedoso, pseudo-cristão como é o da teologia da libertação, que está a fazer água na Barca de Pedro, o que poderá levá-la ao naufrágio enquanto entidade sociologicamente visível. Porque, insistimos a Igreja de Cristo, invisível, mesmo formada por seres humanos, esta jamais sucumbirá. Até porque a TdL não é bíblica, não é evangélica, não é de Cristo. Ela é a fumaça de satanás que entrou pelas frestas da Igreja. Ela é o Judas do texto bíblico, aquele que na casa de Lázaro, hipocritamente se constrangeu com o “desperdício” do precioso unguento derramado sobre Jesus.

O discurso da opção preferencial pelos pobres disseminado na Igreja, em especial pelo episcopado latino-americano, é um gravíssimo erro que se espalha dentro da Igreja. O Filho de Deus veio para salvar a todo aquele que nele crê, seja rico ou pobre. “Cristo, – diz Barth – em quem a salvação eterna veio para aqueles que são ricos ou pobres, é o Cristo da pobreza para todas as pessoas que são pobres, todas que são verdadeiramente destituídas ou sofrem sob qualquer privação: esse é o conquistador que torna ricas todas as pessoas pobres. Em grande humilhação o mais excelso Deus tornou-se o senhor da humanidade.

A fim de tornar-se rico nele, o ser humano haverá de seguir o exemplo de sua humilhação, haverá de confessar sua pobreza.” Cristo não necessitou sair da pobreza para tornar-se Rei. De igual modo, paradoxalmente, aquele que quiser ser rico espiritualmente, desfaça-se de sua riqueza material, se tal for impedimento para carregar a cruz.

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