Artigo – Os paladinos da verdade e da justiça

Barros Alves
Pronunciamento da deputada Dra Silvana na Sessão Solene em que a Assembléia Legislativa do Ceará comemorou o DIA DO JORNALISTA. Blog do jornalista Eliomar de Lima, do jornal O POVO.

“Confiamos em que os jornalistas sejam paladinos da verdade e da justiça, assegurados pela retidão ética em seu cotidiano exercício profissional”, aponta em artigo a médica e deputada estadual Dra. Silvana

Comemorar o Dia do Jornalista, cuja data oficial ocorre a 7 de abril, constitui um momento auspicioso para qualquer democracia, posto que não existe mídia livre sem liberdade de expressão. Portanto, é condição “sine qua non” para o exercício da plena cidadania num país sob estado de direito democrático, que os jornalistas se expressem livremente, de forma irrestrita, sob o império da nossa Lei Maior, que, – diga-se de passagem -, não submete nenhum cidadão brasileiro a qualquer tipo de censura prévia.

Foi com esse espírito de aliada incondicional da liberdade, que propus a realização da sessão solene, a qual contou com a assinatura dos meus ilustres pares, deputados Guilherme Sampaio, Larissa Gaspar, Marta Gonçalves, Emília Pessoa, Stuart Castro, Carmelo Neto, Alcides Fernandes, Firmo Camurça, Almir Bié e De Assis Diniz, tendo recebido de imediato o aplauso do presidente Evandro Leitão.

O Dia do Jornalista nasceu de uma homenagem que a Associação Brasileira de Imprensa, criada a 7 de abril de 1908, resolveu prestar a partir de 1931, a um dos grandes jornalistas brasileiros, liberal até no nome. Italiano de nascimento, mas radicado no Brasil, Giovanni Battista LÍBERO BADARÓ foi um médico, político e jornalista que fundou o jornal “Observador Constitucional”, no qual fazia acirrada campanha contra o imperador Pedro I. Na esteira da grande crise que se abateu sobre o primeiro reinado, no final dos anos 1820, eis que um atentado, em 21 de novembro de 1830, ceifou a vida do destemido Líbero Badaró, pioneiro entre nós da liberdade de Imprensa. Conta-se que as últimas palavras pronunciadas por Badaró ao cair fulminado pelo tiro que o matou foram: “Morre um liberal, mas não morre a liberdade.” Tinha 32 anos de idade.

No dia 7 de abril de 1831, premido pelas circunstâncias que lhe eram adversas, o jovem imperador Pedro I, coincidentemente da mesma idade do seu opositor, abdicou do trono em favor do seu filho D. Pedro de Alcântara, depois D. Pedro II. A data icônica serviu para que a ABI definisse o 7 de abril como o Dia do Jornalista.

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Em nosso Ceará, a primeira gazeta, segundo alguns historiadores, surgiu no início do século dezenove, por volta de 1817, sob o governo de Manuel Inácio de Sampaio. Porém, comprovadamente foi o “Diário do Governo do Ceará”, o primeiro órgão de Imprensa de que se tem conhecimento de fato, surgido a 1º de abril de 1824. Isto é há 199 anos. O redator, digamos o jornalista faz-tudo pioneiro do “Diário” era o Padre Gonçalo Inácio de Loiola e Albuquerque, que acrescentou ao nome a palavra indígena Mororó, uma espécie de codinome revolucionário, pois foi militante ativo da Revolução de 1824. Aliás, o “Diário do Governo do Ceará” era um porta-voz da insatisfação das lideranças políticas locais e do pensamento liberal contra a político do Império. Mororó foi um dos que pagaram com a vida pela ousadia.

Daquele tempo aos dias atuais foram muitos os jornais e mais ainda os jornalistas que destemidamente defenderam postulados de liberdade, justiça e cidadania. Cito arbitrariamente nomes que iluminaram o nosso jornalismo, tais como João Brígido, Paulo Sarasate, Demócrito Dummar, Perboyre e Silva, Francisco Alves Maia, Venelouis Xavier Pereira, Newton Pedrosa, Ivonete Maia, Adísia Sá, Sandra Chaves e muitas outras personalidades de ontem e de hoje que se dedicaram às lides do jornalísticas em todas as suas manifestações específicas, tanto na área da Política quanto nas muitas vertentes da sociedade em geral.

Se ontem os jornalistas jungiam-se à palavra escrita com o objetivo de elaborar uma compilação de fatos e eventos em forma de notícia, para entregá-los ao leitor de jornal, atualmente o exercício jornalístico está bem mais complexo, em face da rapidez com que os veículos de comunicação transmitem a informação, também da pressurosidade do usuário midiático e suas peculiares exigências. As mídias digitais apresentam imensas aberturas democráticas e potencialidades extraordinárias, as quais são um festim para o jornalista, que agora tem de concorrer com atores não academicamente formados para o exercício do jornalismo. É o preço da bem-vinda democratização dos avanços tecnológicos na área da Comunicação. Bilhões de sites, blogs e outros instrumentos comunicacionais disseminam informações a cada segundo, em todo o mundo. Diante dessa constatação é que a responsabilidade do jornalista para com a verdade se torna um imprescindível requisito ético e sua posição mais se alteia no contexto dessa sociedade pós-verdade.

Nesse contexto, a comunicação descrita hoje com uma variedade e diversidade de definições, conquistou novos parâmetros junto à economia, à política, à filosofia e à cultura. Não obstante a diversidade de ângulos, há um consenso entre os estudiosos da sociedade ao indicar a comunicação como um aspecto essencial, que articula e move a lógica da mudança nos dias atuais.

Induvidosamente, o universo da comunicação foi sensivelmente influenciado, nos últimos anos, pela intervenção das novidades técnicas que revolucionaram as características das modalidades operativas, dos valores e dos aspectos culturais. Os dois últimos decênios foram definidores de novas modalidades de conexão relacionais em face da imensa expansão digital na sociedade, e essa incidência digital no viver cotidiano se configura como um dos desafios essenciais, para pensar e compreender o lugar ocupado pela comunicação, especialmente na sua versão midiática no mundo contemporâneo. O progresso das novas tecnologias convive sempre mais com o nosso dia-a-dia e se verifica, de forma sempre mais crescente, uma invasão eletrônico-comunicativa na sociedade.

Os senhores e senhoras jornalistas não podem esquecer jamais que todas as maravilhosas invenções tecnológicas são dons de Deus e devem criar laços de solidariedade entre as pessoas, porque são também resultado do esforço humano no processo histórico-científico.

A sociedade espera, portanto, que a inteligência e a consciência de todos os jornalistas sejam instrumentos para o enfrentamento dos desafios de nossa sociedade, os quais ao se desvincularem da Transcendência, mergulham no caos ético que tem transformado os meios de comunicação numa seara de improfícuo materialismo a caminho do desastre.

Confiamos em que os jornalistas sejam paladinos da verdade e da justiça, assegurados pela retidão ética em seu cotidiano exercício profissional.

Quero prestar uma homenagem especial a um nome que se alteia entre os muitos jornalistas cearenses em todos os tempos. Refiro-me a Demócrito Rocha, que apesar de ser baiano de nascimento, fez-se cearense de alma e coração.

O jornalista é naturalmente um ser de elevada sensibilidade. Todo jornalista vocacionado é um escritor em potencial. Entre os jornalistas inscrevem-se grandes cronistas, historiadores, memorialistas, alguns romancistas e uns poucos poetas. A Assembleia Legislativa vai realizar sessão solene na próxima sexta-feira, dia 14, para relembrar os 135 anos de nascimento do jornalista Demócrito Rocha e comemorar os 35 anos de criação da Fundação que leva o nome do ilustre cearense.

Quero louvar a memória desse jornalista, poeta bissexto, que lavrou um dos mais belos poemas da Literatura cearense, quiçá da Literatura brasileira. Quixote na luta pela construção do Açude de Orós, iniciada em 1923, e que se arrastava ao longo dos anos, o então deputado federal Demócrito Rocha foi buscar nas musas a inspiração para a denúncia e a cobrança. Eis que lhe acudiu o estro e ele fez publicar o belo poema RIO JAGUARIBE, que aqui transcrevo:

“O Rio Jaguaribe é uma artéria aberta
por onde escorre
e se perde
o sangue do Ceará.
O mar não se tinge de vermelho
porque o sangue do Ceará
é azul …
Todo plasma
toda essa hemoglobina
na sístole dos invernos
vai perder-se no mar.
Há milênios… desde que se rompeu a túnica
das rochas na explosão dos cataclismos
ou na erosão secular do calcário
do gnaisse do quartzo da sílica natural …
E a ruptura dos aneurismas dos açudes…
Quanto tempo perdido!
E o pobre doente — o Ceará — anemiado,
esquelético, pedinte e desnutrido —
a vasta rede capilar a queimar-se na soalheira —
é o gigante com a artéria aberta
resistindo e morrendo
resistindo e morrendo
resistindo e morrendo
morrendo e resistindo…
(Foi a espada de um Deus que te feriu
a carótida
a ti — Fênix do Brasil.)
E o teu cérebro ainda pensa

Foto: Aurelio Alves – Dra. Silvana é médica e deputada estadual (Foto: Aurelio Alves/ Jornal O POVO)

 

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